Como era procurar um marido ou mulher no Brasil do Século XIX?

Você já parou pra pensar como era encontrar o amor quando cada classe social vivia num Brasil completamente diferente? Como se conquistava alguém quando o sobrenome pesava mais que o sentimento?

Imagina três mundos no mesmo país. No primeiro, você não escolhe nada. No segundo, você escolhe, mas dentro de um cercado invisível. No terceiro, tudo é arranjado antes mesmo de você nascer.

Vamos começar pela escravidão. Nas senzalas, conseguir um parceiro era ato de resistência. Os africanos escravizados eram separados por etnias propositalmente. Mas nas festas religiosas permitidas, nos raros momentos de descanso, os olhares se encontravam.

Pesquisas da Universidade Federal Fluminense mostram que muitos casais se formavam nessas celebrações. Alguns senhores até incentivavam uniões. Não por bondade, mas porque acreditavam que família evitava fugas. O amor ali era político. Era dizer: você não controla meu coração.

Agora sobe um degrau. A classe pobre livre. Trabalhadores, lavadeiras, vendedores ambulantes. Aqui tinha liberdade, mas não tinha luxo. Os casais se conheciam na igreja, no mercado, nas festas populares do bairro.

Um estudo da Revista Brasileira de Estudos de População revela que nessa classe, mulheres tinham mais autonomia pra escolher parceiros. Não tinha dote nem herança pra proteger. O amor acontecia no cotidiano, nas conversas na fonte d'água, no caminho do trabalho.

Eram os bailes das irmandades religiosas, as festas de largo, o trabalho lado a lado que aproximavam as pessoas. O namoro era vigiado pela comunidade inteira, mas a escolha era mais livre que nas outras classes.

E agora a elite. Aqui o amor quase não entrava na conversa. Casamento era negócio, aliança entre famílias, fusão de fortunas e sobrenomes importantes.

A historiadora Mariana Muaze documentou que era comum até o final do século dezenove constituir matrimônio dentro da mesma família ou entre troncos familiares com negócios em comum. O objetivo? Não deixar a riqueza se dissipar.

Os pais negociavam tudo. Dote, propriedades, até cláusulas contratuais. O casal muitas vezes se via pela primeira vez no dia do noivado. O amor? Esse, se viesse, viria depois.

Mas sabe o que é fascinante? Em todas as classes, de formas diferentes, o amor sempre encontrava brechas. Sempre resistia.

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Então reflete: quando foi a última vez que você valorizou sua liberdade de escolher quem amar? Que tal hoje respeitar e celebrar todas as formas de amor ao seu redor?

Porque todo amor que resiste merece ser honrado.

Fontes:

Universidade Federal Fluminense (2018). "Família e Sociabilidade Escrava no Brasil Colonial". https://www.historia.uff.br/stricto/td/2128.pdf

Revista Brasileira de Estudos de População (2017). "Casamentos mistos: entre a escravidão e a liberdade Franca-São Paulo/Brasil, século XIX". https://rebep.emnuvens.com.br/revista/article/view/1075

Muaze, M. (2008). "As memórias da viscondessa: família e poder no Brasil Império". Citado em: https://rainhastragicas.com/2017/08/01/casamento-um-contrato-social-praticas-matrimoniais-no-brasil-oitocentista/


FAQ - Como se conseguia um parceiro na época da escravidão e em diferentes classes sociais?

1. Como funcionavam os relacionamentos entre pessoas escravizadas?

Os relacionamentos entre pessoas escravizadas eram uma forma de resistência e manutenção da humanidade. Apesar dos senhores separarem propositalmente africanos por etnias para dificultar a comunicação e união, os casais se formavam nas senzalas, durante festas religiosas permitidas e nos raros momentos de convivência social. Muitos realizavam cerimônias africanas como "pular a vassoura" já que casamentos oficiais eram negados a eles.

2. Por que alguns senhores de escravos incentivavam casamentos?

Não era por bondade. Os senhores acreditavam que pessoas escravizadas com família tentariam menos fugir e produziriam mais filhos que também seriam escravizados, aumentando assim sua "propriedade" e força de trabalho. Era uma estratégia puramente econômica e de controle.

3. Como a classe pobre livre conhecia seus parceiros?

A classe pobre livre (trabalhadores, lavadeiras, vendedores ambulantes) conhecia parceiros no cotidiano: na igreja, no mercado, nas festas de largo, nos bailes das irmandades religiosas e durante o trabalho. Essas pessoas tinham mais liberdade de escolha que a elite, pois não havia dotes ou heranças grandes para proteger.

4. As mulheres pobres livres tinham autonomia para escolher?

Sim! Estudos mostram que mulheres da classe pobre livre tinham mais autonomia para escolher parceiros comparado às mulheres da elite. Sem grandes patrimônios em jogo, a escolha era mais baseada em afinidade pessoal, ainda que vigiada pela comunidade.

5. Como funcionavam os casamentos na elite brasileira?

Na elite, casamento era primordialmente um negócio. As famílias arranjavam uniões desde a infância dos filhos, buscando alianças que consolidassem fortunas e sobrenomes importantes. Era comum casar dentro da mesma família ou entre famílias com negócios em comum para não dispersar a riqueza.

6. As pessoas da elite se conheciam antes de casar?

Muitas vezes não. O casal frequentemente se via pela primeira vez no dia do noivado. Os pais negociavam dotes, propriedades e até cláusulas contratuais sem a participação efetiva dos noivos. O amor, se surgisse, viria após o casamento.

7. As moças da elite tinham liberdade?

Muito pouca. As jovens da elite viviam reclusas, saindo pouco de casa e dedicando-se a preparar o enxoval. Eram educadas para serem boas esposas e mães, sem participação nas decisões sobre seu próprio casamento.

8. Existiam casamentos entre classes diferentes?

Sim, existiam os chamados "casamentos mistos". Pesquisas documentam uniões entre pessoas livres e escravizadas ou ex-escravizadas. Esses casamentos eram mais comuns entre mulheres livres pobres e homens escravizados ou libertos, e serviam como estratégia para manter ou elevar status social.

9. A Igreja Católica tinha influência nos casamentos?

Sim, enorme influência. A Igreja preconizava o modelo de família legítima e controlava os registros de casamento. Para todas as classes, legitimar a união perante a Igreja significava reconhecimento social, proteção da prole e direito à transmissão de bens.

10. Havia amor verdadeiro nesses relacionamentos?

Sim! Apesar de todas as limitações impostas por cada classe social, o amor sempre encontrava brechas. Mesmo em casamentos arranjados da elite, sentimentos podiam se desenvolver. Entre pessoas escravizadas, o amor era ato de resistência. Na classe pobre livre, havia mais espaço para escolhas afetivas.

11. Como eram as festas onde as pessoas se conheciam?

As festas religiosas eram os principais espaços de socialização. Incluíam celebrações católicas, festas de largo, bailes das irmandades religiosas e, para pessoas escravizadas, raros momentos permitidos para celebrações com elementos de culturas africanas, onde compartilhavam canções, danças e histórias.

12. O que era "pular a vassoura"?

Era uma cerimônia africana de união matrimonial praticada por pessoas escravizadas. Como não tinham direito a casamentos oficiais reconhecidos pela Igreja ou Estado, criavam seus próprios rituais de compromisso baseados em tradições africanas.

13. Qual era o papel do dote nos casamentos?

O dote era fundamental especialmente na elite e na classe média. Consistia em bens, dinheiro ou propriedades que a família da noiva oferecia ao casal. Era negociado pelos pais e determinava muitas vezes a viabilidade do casamento. Na classe pobre, dotes eram inexistentes ou simbólicos.

14. Homens e mulheres tinham as mesmas liberdades?

Não. Em todas as classes, mulheres tinham menos liberdade que homens. Homens da elite estudavam na Europa enquanto moças ficavam reclusas. Homens pobres livres circulavam livremente pelo trabalho, enquanto mulheres eram mais vigiadas pela comunidade. Na escravidão, ambos eram igualmente privados de liberdade, mas mulheres sofriam violências adicionais.

15. Essas práticas mudaram ao longo do tempo?

Sim. Com a abolição da escravidão em 1888, as dinâmicas mudaram. A urbanização e industrialização do século XX trouxeram mais mobilidade social. As mulheres conquistaram gradualmente mais direitos e autonomia. Hoje temos liberdade de escolha que era impensável naquela época, algo que merece ser valorizado e celebrado.

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